domingo, 11 de abril de 2010

post do Marat

Ser o único elemento da equipe que não pertence ao meio teatral me deixa bastante à vontade para olhar o trabalho de fora - especialmente pelo meu papel de documentar tudo em vídeo, ficando por trás do olho frio da câmera. Desse ponto de vista neutro, percebo os prós e contras do projeto.




Qualidades:

1- Vejo segurança na equipe. Todos agem como profissionais, o que dá muita tranqüilidade à direção, e a mim como produtor do vídeo.

2- Os elementos que não se encaixavam nessa segurança profissional saíram naturalmente do projeto, sem traumas.

3- Percebe-se, assim, que há um controle de todo o processo, pelo menos no que diz respeito à escolha da equipe técnica.

4- O elenco é bom. É possível que metade dele nunca tenha atuado na vida, mas mostram nos exercícios uma facilidade de assimilação e respostas que favorecem a uma visão otimista – pelo menos nesse primeiro momento, mais experimental.

5- Do ponto de vista subjetivo, há garra e interesse na maioria das pessoas do elenco.



Defeitos:

1- Ainda não há coesão na equipe, o que parece ser motivado pelo grande número de envolvidos (quase trinta). A competência também pode ser um fator responsável por isso, contraditoriamente: como todos estão muito seguros do que fazem, parece não haver consenso. Vejo cada equipe seguir seu próprio caminho, em aparente concordância, mas sem direção. E é necessário que as equipes acatem uma direção, ou o trabalho não vai funcionar.

2- Como as equipes ainda não se acertaram num verdadeiro trabalho em conjunto, ainda não se definiu claramente para cada um as metas do projeto: existencialismo (representado pelo teatro do absurdo de Ionesco), o absurdo cotidiano (representado pela obra obra surrealista de Magritte) e a incomunicabilidade (representando o vazio existencial). Há muitas idéias, lançadas de forma aleatória, e nem todas convergem para esses três pontos – algumas se afastam, mesmo, radicalmente, não por criatividade, mas por falta de base, de conhecimento, de pesquisa. Como resolver isso? Novamente é preciso uma direção. Não há mais tempo para esperar que as equipes, expontaneamente, resolvam o problema. Se há a necessidade de definir metas e trabalhar com rumos bem específicos, isso já existe, está no projeto desde o princípio. Basta por em prática.

3- Tenho a sensação de que o tempo não está sendo bem aproveitado. Claro, ainda estamos numa fase de experimentações, mas toda vez que acaba um exercício eu fico com a impressão de que não se ganhou nada. No meu entender (e essa é a opinião de um leigo em teatro), um exercício deveria ser iniciado como proposta e se encerrar como possibilidades. Deveria-se entrar com uma idéia e sair com respostas (ou perguntas). Mas o que vejo são apenas exercícios aleatórios, como numa oficina de teatro, diversão, passatempo, e não um projeto de espetáculo. Algo do tipo: “O que será que vamos fazer hoje?”; quando o correto seria: “O que vamos descobrir hoje?”.



Conclusão: É uma qualidade a direção não ser autoritária, mas é um defeito ser permissiva. Encontrar o equilíbrio entre esses dois pontos, sem melindrar os egos, é mais um desafio para a realização desse espetáculo. Acredito que isso irá se definir melhor nessa próxima semana. E será então que, de fato, a diversão irá começar, pois se brinca melhor quando se conhece as regras e se sabe do que se brinca.

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